quarta-feira, 15 de outubro de 2014

O ESTREITO DE BREVES: OUTRO BRASIL

Lugar muito conhecido na região amazônica por uma finalidade singular, serve de ligação à navegação entre os Estados do Pará e seus vizinhos, como Amapá, Amazonas, além de municípios da região.

O ESTREITO DE BREVES  é canal fluvial necessário para quem navega na direção do Arquipélago do Marajó, sendo este o maior arquipélago fluvio-marítimo do planeta, composto por 2500 ilhas e ilhotas, com extensão territorial que abrangem 12 municípios do Estado do Pará, sendo o Município de Breves, Afuá, Anajás, Cachoeira do Arari, Chaves, Curralinho, Muaná, Santa Cruz do Arari, São Sebastião da Boa Vista, Ponta de Pedras, Salvaterra e Soure, estes três últimos municípios famosos por suas belas praias e fazendas criadoras de búfalos, servindo de atrativo turístico para a região.

A população do Estreito de Breves habita casas de madeira, com cobertura de palha seca. 
As descrições das condições de moradia e da sobrevivência dessas famílias, revelam um abandono total por parte dos Governos Federal, Estadual e Municipal, visto nenhum tipo de infra-estrutura social.

Assim, esta solidão material e de recursos sociais, obriga as crianças a pedir alimentos em ‘casquinhos’ ou canoa a remo.
No estreito de Breves, até pé de galinha, pescoço e vísceras são alimentos saudáveis e festejados pela população, quando doados pelas embarcações, ou por seus passageiros.


Logo o lugar vive e sobrevive de esmola diária e do faz de conta dos governantes como um todo.
O estreito é um lugar ímpar, onde ali estão pessoas que também são cidadãos brasileiros.
O Passageiro que passa nos grandes barcos fica com a imagem de desespero e esperança que se revela no contato estimulativo causado pelo grito das crianças, quase nuas, a pedir alimentos, com os gestos de seus braços, que acenam na direção do grande navio, a criança embarcada no casquinho, fixa seu olhar no centro do estreito, implorando por algo à nível de doação para continuar existindo na vida de pobreza e miséria absoluta a que está condenada.
Os pais dessas crianças do Estreito de Breves sobrevivem da extração de palmito, açaí e frutas de época, bem como do camarão. Grande parte dessas mercadorias é oferecida pelos moradores para quem está navegando no estreito, através de seus filhos.

Essas crianças remam nas águas na esperança de continuar a viver e sorrir...
Para conseguirem entrar nas embarcações, elas têm que pôr suas vidas em risco, são obrigadas a atracar suas canoas ou casquinhos ao laçar um gancho no navio e segurar na corda que está amarrada na canoa ou firme em suas mãos, pois o navio não para. Dessa forma elas embarcam e procuram vender seus produtos regionais, algumas escolhem o escambo, ou seja, troca de mercadorias por principalmente óleo diesel, arroz, feijão, açúcar, etc...

A mocinha vem à Embarcação oferecer Pupunha e Cupuaçu, fruto da região amazônica, e muitas vezes não aceita vendê-los, o dinheiro para ela não tem utilidade, ela prioriza trocar produtos...

Esse cenário social, promovido pela ausência dos governos em todas as esferas citadas anteriormente, força às empresas de navegação que trafegam no Estreito de Breves, e aqui se inclui Balsas e Navios, aqueles repletos de redes de passageiros, um custo social adicional de óleo diesel, para que seus tripulantes possam trocar em produtos oferecidos pelos ribeirinhos, objetivando minimizar o conflito subliminar que o choque social produz entre a riqueza transportada e a pobreza e miséria instaurada na região.

A prostituição infanto-juvenil também é uma alternativa para conseguir Óleo Diesel e sobrevivência social, dentro das embarcações. Assim é possível negociar um "encontro amoroso", desculpem a expressão, por 15 ou 20 litros, em algumas situações, com menor quantidade de óleo diesel, com a idade das moças variando a partir dos 12
anos... Sem comentários...

Porém todos nós, brasileiros, esperamos um dia encontrarmos essa rua de água amazônica, em condições de oferecer moradia, saúde e escolaridade aos seus habitantes e que essa realidade social, 
chamada de pobreza e miséria brasileira,                             não sirva apenas de documentário para televisões nacionais e internacionais, como a Televisão Árabe Al-Jazira que está expondo um documentário ao mundo sobre essa realidade vivida no Estreito de Breves, realidade Made in Brazil, demonstrando a forma como as crianças se aproximam dos navios de passageiros e o risco de vida que elas passam nesta operação ao tentar atracar a canoa em um navio em movimento, e o documentário explica que a cena não é brincadeira de criança e sim trabalho infantil legalizado no Brasil.

Eliminar o quadro de abandono social em que vive a população do Estreito de Breves, onde ainda hoje a miséria e a pobreza imperam, é o que poderá produzir o início de uma era em busca do equilíbrio benéfico à relação Homem - Meio ambiente.

Estas fotos são do Sunrise, do Greenpeace, que atravessa o Estreito de Breves, no Pará. 
Esta embarcação veio ao Brasil como parte dos protestos realizados durante o Fórum Social Mundial. (Foto: Rodrigo Baleia/Greenpeace)

Com investimentos sócio-econômico-educacional, por parte dos governos, da iniciativa privada e da sociedade como um todo, a essa população ribeirinha, do norte do Brasil, será possível fazer turismo neste belo arquipélago do Marajó e assim desfrutar da alegria das pessoas que habitam essa parte da Amazônia.

A Amazônia é Brasileira e o nosso desafio como Nação, é dar condições de vida digna, as gerações familiares que vivem a margem dos nossos rios, porém sem jamais permitir que possam continuar vivendo a margem da sociedade.

Esse é o nosso desafio, e a história brasileira dirá de forma estreita e breve, o que está acontecendo no Estreito de Breves.


Mauri N. Lima Gaspar - Psicólogo